20 de outubro de 2015

Lodo de esgoto para produção de grama

Aplicação de lodo de esgoto em produção de grama

lodo2 Lodo de esgoto para produção de grama

Figura 1. Lodo de esgoto gerado do tratamento de efluentes.

O lodo de esgoto, resíduo de maior volume gerado durante os processos de tratamento de efluentes, apresenta disposição final problemática e freqüentemente negligenciada, comprometendo parcialmente os efeitos benéficos da coleta e tratamento de esgoto (Figura 1). Como alternativa para regularização, otimização e monitoramento da operação destes sistemas de tratamento, a reciclagem agrícola de lodos de ETE (Estações de Tratamento de Esgoto) é uma destinação adequada ambientalmente.

Por se tratar de um resíduo sem custos para o agricultor, o único inconveniente é, basicamente, o custo do transporte da ETE (Estações de Tratamento de Esgoto) até o local da aplicação. Nesse sentido, deve-se procurar locais mais próximos das ETEs para que este material seja aplicado ao solo.

O uso de lodo de esgoto na agricultura contribui para reduzir o consumo de fertilizantes inorgânicos, devido à presença de nutrientes essenciais às plantas e matéria orgânica, denotando assim uma redução de custos pela agricultura e diminuição do acúmulo nos centros de produção.

O lodo de esgoto tem apresentado bons resultados como fertilizante para diversas culturas, sendo, portanto, um fertilizante potencial em diversas condições de solo e clima.

O nitrogênio é o nutriente que proporciona as maiores respostas no crescimento das gramas e é também o mais valioso constituinte do lodo. A adubação nitrogenada adequada pode proporcionar a formação do tapete em menor tempo, com boa qualidade. Os gramados que recebem uma dose maior de N apresentam um crescimento mais rápido da parte aérea e uma maior densidade de plantas e folhas. Esta característica é muito importante nos sistemas de produção de gramas no qual se deseja produzir os tapete em menor tempo possível para aumentar a produtividade da área.

O N pode ser usado como fator limitante para a definição da dose máxima de lodo a ser aplicado ao solo, pois, acima de certo nível, o nitrogênio pode lixiviar em forma de nitratos e contaminar o lençol freático.

A adubação representa, aproximadamente, 31% dos custos de produção de grama, sendo este valor considerado elevado. Dessa forma, o lodo de esgoto poderia vir como uma alternativa de fonte de nutrientes para minimizar estes custos, aumentando assim os lucros dos produtores.

Outro aspecto que deve ser ressaltado é que há um limite de aplicação do lodo de esgoto, estipulado pela CETESB, em função da concentração de metais pesados, fazendo com que a aplicação em um único local por muito tempo seja restritiva. Nas áreas onde são produzidos os tapetes de grama, é importante ressaltar que quando os tapetes são cortados, uma pequena camada de solo também é retirada (cerca de 1 a 2 cm). Logo, estas áreas de produção podem ser usadas para a reciclagem do lodo de esgoto, sem limitações quanto a metais pesados, que são retirados juntamente com essa camada de solo que é levada com o tapete.

A aplicação de lodo de esgoto em produção de grama esmeralda foi testada e verificou-se que doses de 20, 30 e 40 t ha/ha de lodo permitiram a formação de tapete de grama em mesmo tempo que a adubação química (Figura 2).

lodo3 Lodo de esgoto para produção de grama

Figura 2. Grama adubada com lodo de esgoto nas doses de 20, 30 e 40 t/ha e adubação química.

O tapete de grama produzido com lodo de esgoto tem seu peso reduzido de 11 a 13% quando comparado com tapete produzido com a adubação química convencional. Essa redução do peso do tapete é atribuída baixa densidade do lodo, ou seja, é um material leve, que após a colheita do tapete fica entre uma camada de solo e a parte superior do tapete (folhas + caules) conforme pode ser visualizado na figura 3.

Diminuindo o peso dos tapetes, diminuirá também o peso da carga, que é considerado um problema na hora do transporte. Essa característica tem uma implicação prática muito importante, uma vez que com a massa menor, consegue-se levar maior número de tapetes com a mesma carga. O valor do frete é um dos itens de maior peso no custo da grama. Nas dimensões do Brasil, pode haver distâncias superiores a mil km entre a obra e o produtor da grama. Acima de uma determinada distância o valor do frete pode ultrapassar o da grama.

lodo4 Lodo de esgoto para produção de grama

Figura 3. Aspecto do tapete de grama produzido com lodo de esgoto.

Deve-se salientar que além de nutrientes e metais pesados, o lodo pode conter patógenos. Bactérias, vírus, protozoários e vermes inevitavelmente estarão presentes nesses resíduos e que as quantidades e as espécies destes patógenos variam com as condições sócio-econômicas da população, hábitos sanitários e com a eficiência dos processos de tratamento, os quais reduzem, mas não eliminam completamente a presença desses organismos.

Mesmo que o tratamento de esgoto não elimine completamente os patógenos, a aplicação superficial do lodo a exposição dos microrganismos ás condições ambientais adversas, faz com que haja a remoção dos mesmos. Por ocasião do corte dos tapetes (nove meses após a aplicação) não foi mais verificada a presença de ovos de helmintos, cistos de protozoários e de coliformes fecais.

Clarice Backes – Doutora em Agronomia/Horticultura (cbackes@fca.unesp.br)

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