Aplicação de lodo de esgoto em produção de grama
Figura 1. Lodo de esgoto gerado do tratamento de efluentes.
O lodo de esgoto, resíduo de maior volume gerado durante os processos de tratamento de efluentes, apresenta disposição final problemática e freqüentemente negligenciada, comprometendo parcialmente os efeitos benéficos da coleta e tratamento de esgoto (Figura 1). Como alternativa para regularização, otimização e monitoramento da operação destes sistemas de tratamento, a reciclagem agrícola de lodos de ETE (Estações de Tratamento de Esgoto) é uma destinação adequada ambientalmente.
Por se tratar de um resíduo sem custos para o agricultor, o único inconveniente é, basicamente, o custo do transporte da ETE (Estações de Tratamento de Esgoto) até o local da aplicação. Nesse sentido, deve-se procurar locais mais próximos das ETEs para que este material seja aplicado ao solo.
O uso de lodo de esgoto na agricultura contribui para reduzir o consumo de fertilizantes inorgânicos, devido à presença de nutrientes essenciais às plantas e matéria orgânica, denotando assim uma redução de custos pela agricultura e diminuição do acúmulo nos centros de produção.
O lodo de esgoto tem apresentado bons resultados como fertilizante para diversas culturas, sendo, portanto, um fertilizante potencial em diversas condições de solo e clima.
O nitrogênio é o nutriente que proporciona as maiores respostas no crescimento das gramas e é também o mais valioso constituinte do lodo. A adubação nitrogenada adequada pode proporcionar a formação do tapete em menor tempo, com boa qualidade. Os gramados que recebem uma dose maior de N apresentam um crescimento mais rápido da parte aérea e uma maior densidade de plantas e folhas. Esta característica é muito importante nos sistemas de produção de gramas no qual se deseja produzir os tapete em menor tempo possível para aumentar a produtividade da área.
O N pode ser usado como fator limitante para a definição da dose máxima de lodo a ser aplicado ao solo, pois, acima de certo nível, o nitrogênio pode lixiviar em forma de nitratos e contaminar o lençol freático.
A adubação representa, aproximadamente, 31% dos custos de produção de grama, sendo este valor considerado elevado. Dessa forma, o lodo de esgoto poderia vir como uma alternativa de fonte de nutrientes para minimizar estes custos, aumentando assim os lucros dos produtores.
Outro aspecto que deve ser ressaltado é que há um limite de aplicação do lodo de esgoto, estipulado pela CETESB, em função da concentração de metais pesados, fazendo com que a aplicação em um único local por muito tempo seja restritiva. Nas áreas onde são produzidos os tapetes de grama, é importante ressaltar que quando os tapetes são cortados, uma pequena camada de solo também é retirada (cerca de 1 a 2 cm). Logo, estas áreas de produção podem ser usadas para a reciclagem do lodo de esgoto, sem limitações quanto a metais pesados, que são retirados juntamente com essa camada de solo que é levada com o tapete.
A aplicação de lodo de esgoto em produção de grama esmeralda foi testada e verificou-se que doses de 20, 30 e 40 t ha/ha de lodo permitiram a formação de tapete de grama em mesmo tempo que a adubação química (Figura 2).
Figura 2. Grama adubada com lodo de esgoto nas doses de 20, 30 e 40 t/ha e adubação química.
O tapete de grama produzido com lodo de esgoto tem seu peso reduzido de 11 a 13% quando comparado com tapete produzido com a adubação química convencional. Essa redução do peso do tapete é atribuída baixa densidade do lodo, ou seja, é um material leve, que após a colheita do tapete fica entre uma camada de solo e a parte superior do tapete (folhas + caules) conforme pode ser visualizado na figura 3.
Diminuindo o peso dos tapetes, diminuirá também o peso da carga, que é considerado um problema na hora do transporte. Essa característica tem uma implicação prática muito importante, uma vez que com a massa menor, consegue-se levar maior número de tapetes com a mesma carga. O valor do frete é um dos itens de maior peso no custo da grama. Nas dimensões do Brasil, pode haver distâncias superiores a mil km entre a obra e o produtor da grama. Acima de uma determinada distância o valor do frete pode ultrapassar o da grama.
Figura 3. Aspecto do tapete de grama produzido com lodo de esgoto.
Deve-se salientar que além de nutrientes e metais pesados, o lodo pode conter patógenos. Bactérias, vírus, protozoários e vermes inevitavelmente estarão presentes nesses resíduos e que as quantidades e as espécies destes patógenos variam com as condições sócio-econômicas da população, hábitos sanitários e com a eficiência dos processos de tratamento, os quais reduzem, mas não eliminam completamente a presença desses organismos.
Mesmo que o tratamento de esgoto não elimine completamente os patógenos, a aplicação superficial do lodo a exposição dos microrganismos ás condições ambientais adversas, faz com que haja a remoção dos mesmos. Por ocasião do corte dos tapetes (nove meses após a aplicação) não foi mais verificada a presença de ovos de helmintos, cistos de protozoários e de coliformes fecais.
Clarice Backes – Doutora em Agronomia/Horticultura (cbackes@fca.unesp.br)