Sim, e não. É fato que um campo de golfe traz “beleza natural” a determinada área, e assumindo-se esta premissa, o campo é passível de observação e admiração.
De fato, o campo é muito mais que isso – originalmente, o pastoreio proposital com ovelhas em gramados nativos de tall fescues, visava aumentar as distâncias percorridas pela bola. Nascia aí a preocupação com o que representa hoje o fator mais importante no propósito de um campo de golfe – a jogabilidade.
Figura 1 – pastoreio com ovelhas em um campo de golfe (by Mark Brooks).
Além da jogabilidade, outros fatores são importantes em um campo:.
Ambiental – estudos comprovam que há considerável redução de temperatura em micro-climas contendo áreas gramadas. Além disso, o campo serve como um filtro na devolução da água (que pode ser água oriunda de efluentes) para o aqüífero freático, e preserva espécies nativas de animais e plantas, podendo literalmente servir como uma “escola ambiental”;
Estético – um dos objetivos de um campo também é trazer beleza à área em questão. Não importa o tipo de terreno e ecossistema, um campo sempre se torna uma paisagem a se contemplar estando tanto em áreas de cerrado, como de mata, à beira da praia ou mesmo na montanha.
Não obstante às várias questões que um campo de golfe venha a servir, ele está lá por um motivo – o jogo.
O jogo de golfe é um dos mais tradicionais e antigos dos jogos, e possui regras e até mesmo um “código de honra” próprios.
O campo deve servir principalmente ao jogo e suas regras. Distâncias, limites do campo, número do Par, áreas de drop e outros fatores devem servir às regras do jogo, que podem ser encontradas no livro de regras da USGA (United States Golf Association) – Rules of Golf.
• Com o crescimento do golfe e a melhoria do mercado brasileiro com a construção, renovação e revitalização de diversos campos, é importante estarmos atentos a isso. O aumento do número de jogadores e a abertura do mercado para estrangeiros – jogadores, turistas e profissionais da indústria – leva a um aumento das expectativas e exigências com relação às condições de jogo.
Abaixo temos uma tabela extraída do livro Building A Practice Golf Facility – A Step-by-Step Guide To Realizing a Dream – escrito por Dr. Michael J. Hurdzan, ex-presidente da ASGCA – American Society of Golf Course Architecture – e ícone no assunto. São mostrados requisitos mínimos para diferentes tipos de empreendimentos de campos de golfe:
Nesta mesma literatura, observa-se um padrão para a indústria americana: admitindo-se 32 mil rodadas anuais em um campo, pode-se aumentar em 10 dólares no preço da green-fee para cada milhão de dólares investido no campo.
No Brasil, é difícil se estimar algo como isso, mas este estudo reflete bem o nível em que o business do golfe chegou nos USA. Manter dados atualizados das operações do campo pode ajudar a definir uma estratégia adequada para o campo.
Jogabilidade e seus parâmetros
Ao longo dos anos, com a evolução do esporte, as regras evoluíram. Também os equipamentos evoluíram, as habilidades dos jogadores evoluíram e como não dizer, os campos evoluíram. De greens de areia ensopada ao óleo para as variedades de textura ultra fina de grama. Do pastoreio com ovelhas à maquinas super sofisticadas de corte, mantendo a grama em até 0.090 pol (2.2mm). Há também hoje áreas bem distintas com relação ao tipo de grama, nivelamento do terreno, drenagem, alturas de corte, etc.
Tudo isso concorrendo para um único ponto – aumento da jogabilidade. É importante atentar para a jogabilidade do campo, visando a satisfação dos golfistas, e evitando que o campo seja visto apenas como um “grande jardim”.
Cada região tem seus próprios parâmetros de jogabilidade: na Europa por exemplo, quase não encontramos os famosos car paths (estradinhas) nos campos, e o rough chega a ter 6 polegadas em alguns casos (praticamente um matagal). Nos USA, a ausência das estradas nos campos é rara, e os roughs são mantidos em média à altura de 2 polegadas. Tudo isso interfere na rodada, sua dificuldade e duração; há interferência também nas operações de manutenção do campo.
Os greens são a parte mais importantes e delicadas dos campos. Cuidados especiais são destinados à área aonde o jogo se decide. Sua arquitetura deve conferir ao jogador uma jogada “justa” (no linguajar do golfe) e também deve conferir boas características agronômicas para a manutenção do gramado.
Normalmente os fatores que afetam as características agronômicas do green também interferem na jogabilidade do mesmo, são eles:
• Ondulação
• Drenagem
• Irrigação e teor atual de água
• Uniformidade
• Altura do gramado
• Espécie de grama
• Firmeza do terreno
Esses fatores são supervisionados e modificados pelo superintendente do campo, mas a avaliação da jogabilidade de um green se dá por meio de um dispositivo simples – o stimpmeter, desenvolvido para medir a distância de rolamento da bola em um green.
Normalmente, são feitas de 3 a 5 leituras na mesma região (de preferência mais plana) do green, provavelmente em uma hora mais seca do dia para evitar a presença de orvalho ou umidade que possa interferir no rolamento da bola. Após as leituras, é realizada uma média aritmética de todas as distâncias e temos a leitura do green.
O equipamento funciona como um guia para a rolagem da bola de golfe, que é colocado no chão e inclinado até que a bola comece a rolar sobre a guia, e então para o green. A distância rolada pela bola no green é então medida.
Figura 3 – Utilização do stimpmeter.
A distância lida é medida em pés, e normalmente uma condição de campeonato do PGA ou USGA pede que os greens rolem 12,5 a 14 (pés). No dia-a-dia dos campos essa distância varia, mas nos campos de padrão elevado os greens sempre rolam em torno de 9 a 12 (pés).
Outro ponto que afeta a jogabilidade do campo é a umidade dos fairways, especialmente na área de pouso da bola. Não é desejável que a bola pouse sobre o gramado e pare devido a um solo muito fofo, muito úmido. Em certos casos, a bola se enche inclusive de lama. O ideal é que o terreno esteja firme e rápido, fazendo a bola rolar distâncias maiores.
Hoje, especialmente nos USA, tem havido um movimento a favor do “brown”. Áreas um pouco amarronzadas ou amareladas em um campo são perfeitamente aceitas caso a justificativa seja o aumento da jogabilidade. Não se tolera mais gasto excessivo de água apenas para se manter o campo verde a todo custo, afetando assim, a jogabilidade.
Pesquisas vêm sendo realizados nesse sentido e vem sendo constatado que irrigações infreqüentes e profundas melhoram a condição do gramado, aumentam a jogabilidade do campo, e economiza em manejo e recursos naturais, uma vez que a pressão ecológica nos USA cresce a cada dia sobre campos de golfe, e estes estão na vanguarda para obter um campo de golfe com o mínimo de manutenção possível.
Na pesquisa citada acima, a freqüência de irrigação foi de 3-4 dias, com chuveiradas diárias curtas durante o período quente do ano, a fim de se diminuir a temperatura foliar (Golf Course Maintenance Magazine, outubro 2010, pag. 90). Sensores de umidade instalados no solo também vêm sendo muito utilizados por campos de golfe, a fim de monitorar a umidade atual de partes do campo, determinando a quantidade exata de água a ser reposta.).
Figura 4 – estação experimental de pesquisa em irrigação em gramados.
Pesquisas vêm sendo realizados nesse sentido e vem sendo constatado que irrigações infreqüentes e profundas melhoram a condição do gramado, aumentam a jogabilidade do campo, e economiza em manejo e recursos naturais, uma vez que a pressão ecológica nos USA cresce a cada dia sobre campos de golfe, e estes estão na vanguarda para obter um campo de golfe com o mínimo de manutenção possível.
Figura 5 – Instalação de um sensor de umidade subterrâneo em um green.
Concluindo, com o crescimento do golfe no Brasil, a jogabilidade dos campos de golfe ficarão cada vez mais em evidência; tanto pelo aumento da exigência dos golfistas locais, como também pela vinda de golfistas estrangeiros com alto padrão de exigências.
Em um país tão grande, bonito e diversificado, onde temos campos de golfe de todos os tipos – cerrado, mata, links, montanhas, etc. – a mãe natureza já se encarregou da maior parte da beleza que o golfe pode proporcionar. É função dos gestores de gramados se preocuparem com os aspectos da jogabilidade dos campos, contribuindo assim para o crescimento do esporte e o aumento do número de jogadores.
Philipe Carvalho Ferreira Aldahir é engenheiro agrônomo formado pela UFLA e especilaista em gramados e campos de golfe.