Figura 1. Operação de coring – com retirada de “tubetes” da camada orgânica.
Em um primeiro momento tratamos dos princípios básicos da aeração como controle de matéria orgânica nos USGA putting greens. Agora discutiremos os aspectos técnicos do processo de aeração.
De acordo com o pesquisador da Universidade da Georgia, Dr. Bob Carrow, o problema vivido por um grande de número superintendentes de golfe em putting greens com base de areia é a acumulação de matéria orgânica (M.O.) na porção superior do perfil do solo. Aeração (Core aeration) e topdressing são os dois meios mais eficazes no controle deste acúmulo de matéria orgânica.
A partir do momento em que qualquer tipo de grama é implantada sobre a base nos padrões USGA, as propriedades físicas do solo nas primeiras polegadas do perfil começam a mudar e o termo “Programa de Diluição de Matéria Orgânica” reúne ambos core aeration e topdressing para controlar a M.O com aeração e preenchimento dos furos com areia aplicada superficialmente, mantendo os índices de matéria orgânica em torno de 3%. O termo core aeration refere-se somente à perfuração com pinos ocos à profundidade de 3 polegadas (o que pode variar um pouco de acordo com o tipo de equipamento utilizado), que retiram tubetes do solo, no caso, a camada com acúmulo de matéria orgânica (Figura 1 e 2).
Figura 2 – Superfície depois da furação, antes do topdressing.
O topdressing é a aplicação de areia diretamente sobre o dossel da grama e aplicações leves, médias e pesadas correspondem a 15dm3 de areia/100m2, 61dm3 de areia/100m2 e 122dm3 de areia/100m2, respectivamente. A recomendação para manter a matéria orgânica abaixo de 3% é se aplicar 1120m3 de areia/100m2 ao ano (Figura 3).
Figura 3. Operação de coring – com retirada de “tubetes” da camada orgânica.
Porém somente a adição da areia não basta, é preciso perfurar o solo e preferencialmente retirar a camada orgânica/compactada. Somente com aplicações médias de areia seriam necessárias aproximadamente 25 aplicações por ano para atender o requisito do programa de controle de matéria orgânica. Ou seja, 1 operação de topdressing a cada 2 semanas, o que causa muito distúrbio à prática esportiva e dificuldades operacionais (disponibilidade de areia e equipamento). Por outro lado, não há como se atender todo o requerimento de coring e topdressing de uma só vez. Dessa maneira, sem as aplicações superficiais, seria impossível manter a areia como principal mediador na região do sistema radicular além do surgimento de outros problemas como layering.
Como então atender o requisito do programa de controle de M.O. sem interromper excessivamente o jogo e com eficiência? A resposta é planejamento anual. Há de se decidir quantas operações serão realizadas, dentre elas, quais serão mais agressivas e o quanto de superfície irá se impactar por operação, no fim do plano a conta deve fechar com a meta estabelecida. Por exemplo, se a meta é se impactar 20% da superfície dos greens em um ano, pode-se realizar 2 operações mais agressivas que impactem 6% da área cada, restariam 8% de superfície a ser impactada por operações mais leves.
O cálculo da areia a ser colocada deve ser baseado em: a) meta; b) volume necessário para preencher os buracos; c) tipo de aplicação (leve, média ou pesada).
Os programas de furação (coring) diferem basicamente em função do espaçamento dos furos, e diâmetro do pino oco (ou pino sólido no caso de spiking).
Abaixo são apresentadas tabelas da relação entre espaçamento, diâmetro e área impactada, bem como o aspecto de um green durante a operação.
Tabela 1. Relação entra área impactada, tamanho dos pinos e espaçamento. As unidades utilizadas: “inches” = polegada = 2,54 cm; “square inches” = 6,54 cm2; “square foot” = 0,109 m2.
Tabela 2 – Relação entre pinos x espaçamento x quantidade de areia necessária. As unidades utilizadas: “in” = 2,54 cm; “square inches” = 6,54 cm2; “1000 ft2” = 109 m2.
Concluindo, a saúde a longo prazo da superfície grama (greens, campos, arenas, etc.) depende do controle de matéria orgânica e da manutenção da areia como principal constituinte da mistura do sistema radicular. Um programa de controle bem planejado pode não só manter os greens rápidos, firmes e saudáveis, como também aumentar sua longevidade.
Philipe Carvalho Ferreira Aldahir é engenheiro agrônomo formado pela UFLA e especilaista em gramados e campos de golf.